Reflexão: terceirização e os riscos para a população | Artigo de Aires Ribeiro

Servidores, Servidoras e população em geral: a terceirização no serviço público não é apenas uma mudança administrativa. Ela representa uma transformação profunda na forma como o Estado se relaciona com a população. Por isso, precisamos refletir com seriedade sobre o que está em pauta.

Hoje, o Servidor público não é apenas um trabalhador que cumpre funções técnicas. Ele é alguém que constrói vínculos, que tem história no local onde atua, que se envolve com a vida da comunidade e conhece profundamente suas necessidades.

Exemplos não faltam

O Guarda Municipal conhece o seu bairro, sabe onde estão os pontos mais críticos, conhece as famílias, reconhece os rostos. Sua atuação vai além da patrulha: é presença, é confiança, é vínculo social.

O Professor conhece seus alunos não só pela chamada, mas pelo olhar, pela forma de se comportar, pelas dificuldades que enfrenta em casa. Ele acompanha o crescimento de gerações e participa da formação de cidadãos conscientes.

O Médico do posto de saúde sabe quem são seus pacientes, conhece o histórico de saúde de cada família, percebe sinais antes que se tornem doenças graves, cria um atendimento humano e continuado.

O Assistente Social não lida apenas com processos e formulários. Ele acompanha famílias em situação de vulnerabilidade, entende suas histórias, cria estratégias de acolhimento e inclusão.

O mesmo acontece com os Agentes Comunitários de Saúde, que entram nos lares, conhecem famílias, as ruas, os problemas diversos de: saneamento, saúde e a realidade vivida de cada morador.

Muita dedicação

Esse tipo de relação de confiança e proximidade não se constrói da noite para o dia. É fruto de anos de dedicação, de continuidade no cargo, de compromisso com o bem-estar coletivo.

Quando o serviço público é entregue à terceirização, tudo isso se perde. O trabalhador terceirizado, muitas vezes, é contratado por períodos curtos, pode ser trocado de posto a qualquer momento e não tem condições de criar raízes na comunidade. O atendimento se torna impessoal, burocrático, distante. Em vez de continuidade e acompanhamento, a população encontra rotatividade e instabilidade.

Outro ponto que não podemos ignorar é a questão econômica. A terceirização quase sempre significa mais custos para o Estado e menos direitos para o trabalhador. A lógica das empresas terceirizadas é o lucro.

Assim, enquanto os Servidores públicos são concursados e comprometidos com a carreira, os terceirizados podem ser demitidos com facilidade, recebem salários menores e enfrentam condições mais precárias de trabalho. No fim das contas, o que deveria ser investimento no bem-estar da população se transforma em ganho privado para poucos empresários.

O resultado é um círculo perverso:

  • A comunidade perde qualidade no atendimento;
  • O trabalhador perde direitos e estabilidade;
  • O Estado paga mais caro para manter um serviço mais frágil;
  • E quem lucra são empresas que veem no serviço público apenas uma oportunidade de negócio.

Por isso, precisamos afirmar com todas as letras: defender o Servidor público é defender a própria população. Cada direito conquistado pelos trabalhadores representa, na prática, um direito garantido ao cidadão que depende do atendimento na escola, no hospital, no CRAS, na segurança, entre outros.

A terceirização pode ser apresentada como solução rápida para reduzir custos ou preencher vagas, mas, na prática, ela compromete a essência do serviço público: ser humano, próximo, eficiente e comprometido com o interesse coletivo.

O Servidor público é a ponte entre o Estado e a sociedade. Romper essa ponte em nome de interesses privados é abrir caminho para um futuro de desigualdades ainda maiores.

Aires Ribeiro é presidente da CSPM (Confederação Nacional dos Servidores e Funcionários Públicos das Fundações, Autarquias e Prefeituras Municipais), presidente da FESSPMESP (Federação dos Servidores Públicos Municipais do Estado de São Paulo) e tesoureiro do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Americana – SSPMA

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *