Reabertura: já combinaram com o vírus? | Artigo de Fernando Brito
Artigo “sobre o vírus”, por Fernando Brito, jornalista do Tijolaço
Antes da partida entre Brasil e União Soviética, na Copa de 1958, o técnico Vicente Feola expôs aos jogadores jogadas táticas que, infalivelmente, levariam nosso escrete a marcar gols. Foi interrompido pela genial simplicidade de Mané Garrinha: “seu Feola, o senhor combinou isso com os russos?”
A história, evocada ontem por Otávio Guedes, durante um dos programa da Globonews remete diretamente aos “planos” de reabertura do comércio e de outras atividades defendidos agora não só pelo Governo Federal, mas por diversos estados e municípios: claro que faltou combinar com o vírus.
Isso já está em marcha, e batida. O Estadão apura que 43 shoppings, quase 10% dos centros comerciais deste tipo, estão abertos e, por toda a parte, as portas de metal, antes fechadas ou semicerradas, escancaram-se quase sem pudor.
A pressão, como se vem dizendo há dias aqui, é imensa: em O Globo, secretários de Fazenda admitem que podem atrasar salários do funcionalismo. E, entre eles, estão os da Saúde e os que lhes dão suporte.
Os tecnocratas, com todo o respeito, nada entendem de dinâmica social. Acham que podem definir coisas em planilhas e portarias e elas acontecerão como está no papel.
Desconsideram que a população está confusa, recebendo orientações antagônica e se encontra pressionada, econômica e psicologicamente por tudo o o que está acontecendo: empregos perdidos, renda que cessou, angústias de solidão, tudo conspirando que, para nos primeiros exemplos, acontecer um “arrastão”para as ruas.
Com tudo o que isso significa de volta, também, à superlotação dos transportes, às aglomeração nas estações de metrô, trens e BRT.
A Organização Mundial de Saúde – aquela que o nosso chanceler jura ser agente comunista chinesa – não à toa advertiu que a América Latina está caminhando para ser o novo centro da pandemia.
Não dá para tratar disso como um “isentão”. Não dá para dizer que “se piorar, a gente volta a fechar”, como se vidas humanas fossem água a escorrer de um torneira para o ralo.
Deter a doença depois de ampliar o nível de sua disseminação pode ser mais que inviável, pode ser caótico.
Fernando Brito é jornalista do site Tijolaço
Crédito da Charge: Amarildo Charges