Viver é aprender: o que a vida pode nos ensinar | Artigo de Antônio Augusto De Queiroz

Ouça a matéria!

 

Vivemos em mundo caótico, confuso e sobretudo conflagrado, onde opiniões são formadas sem qualquer controle ou mediação, muitas vezes influenciadas por algoritmos, constituindo-se numa verdadeira avenida aberta para os oportunistas de plantão. Ambientes como esses são propícios para aproveitadores, que se valem da ignorância ou da boa-fé alheia para obter benefícios políticos e financeiros. Felizmente, a vida nos ensina, de maneira sutil e muitas vezes dolorosa, a reconhecer e lidar com diferentes tipos de pessoas e comportamentos que encontramos ao longo do caminho.

No meu caso pessoal, procuro me equilibrar nesse ambiente instável observando as pessoas a partir de 4 tipos distintos de classificação para efeito de relacionamentos pessoais e profissionais: interessantes, interessadas, interesseiras e ressentidas, conforme as características identificadas a seguir.

O primeiro tipo — interessantes — são aquelas pessoas que nos inspiram, agregam valor às nossas vidas e nos estimulam a crescer. Devemos nos aproximar delas, aprender e compartilhar experiências. Elas são como faróis que nos guiam em meio à escuridão.

O segundo tipo — interessadas — são pessoas que buscam ajuda e orientação. Estender-lhes a mão pode ser gratificante, pois muitas vezes estão apenas precisando de empurrão para alcançar seus objetivos. Ajude no que puder, pois a colaboração é 1 dos pilares de sociedade mais justa e equilibrada.

O terceiro tipo — interesseiras — são oportunistas, que se aproximam apenas para obter algo em troca. Sua motivação é puramente egoísta, e interações com elas geralmente resultam em decepção. Evitá-las é a melhor maneira de proteger nossa paz e energia.

O quarto tipo — ressentidas — essa categoria é dividida em 2 subgrupos. O primeiro subgrupo é composto por indivíduos induzidos a esse comportamento pela ignorância, ou seja, pela ausência de informação e pela manipulação. Já o segundo subgrupo é formado por pessoas esclarecidas, porém conscientemente carregadas de raiva, ódio ou indiferença em relação a minorias sociais, movimentos sociais, partidos com visão distintas da sua ou corrente de pensamento.

O primeiro subgrupo — dos ignorantes ou de pessoas de baixa cognitividade — pode ter 2 destinos:

1) após pagar 1 preço alto pela ignorância, como ocorreu com a maioria dos presos no quebra-quebra de 8 de janeiro de 2023, acordar e perceber que foi usado como massa de manobra, ou

2) se entregar ainda mais ao radicalismo e ao fundamentalismo, hipótese em suas vidas serão guiadas pelos instintos primitivos e consumidas pela sede de vingança e com isso perdendo alegria e empatia.

O segundo subgrupo — os conscientes de suas ações coléricas ou de sua indiferença histérica — é formado por fundamentalistas, em geral pessoas inseguras que carregam alguma culpa e buscam alívio em crenças profundas e dogmas. Utilizam a tática do “pega ladrão” — apontam supostos culpados para desviar a atenção de seus próprios erros.

A vida nos ensina que devemos sempre desconfiar dos fundamentalistas, especialmente pela incapacidade dessas pessoas de relativizar suas crenças, chegando ao ponto do negacionismo, inclusive em relação à ciência.

Ambos os subgrupos — os ignorantes e os conscientes de má-fé —, costumam dissimular suas verdadeiras motivações, invocando a defesa da religião, da pátria, da família e da liberdade. Essa é a pior forma de manipulação, pois invocam instituições sagradas para instigar reações fundamentalistas das pessoas, explorando suas convicções nucleares — crenças e valores dos indivíduos e grupos —, que muitas vezes exacerbam divisões e conflitos, constituindo-se em pilares que orientam a moralidade, a identidade e a visão de mundo dessas pessoas, influenciando decisões e comportamentos tanto na esfera pessoal quanto na pública.

Outra categoria, também preocupante, é dos narcisistas ou deslumbrados, que agem por vaidade. Esse transtorno de personalidade é caracterizado por padrão de grandiosidade ou de superioridade. Pessoas com esse transtorno são geralmente incapazes de demonstrar empatia para com aqueles que não lhes prestam atenção ou adulação suficientes, o que resulta frequentemente em relacionamentos conturbados. Esse tipo de gente, embora não seja tão nefasta quanto os ressentidos, igualmente deve ser evitado.”

Porém, sempre devemos ter cuidado ao classificar as pessoas: nunca julgue ninguém pela primeira impressão ou pela aparência. As aparências, frequentemente, enganam. Quando alguém se comporta com moralismo exacerbado, por exemplo, na esmagadora maioria dos casos, é para encobrir algum malfeito, seja no presente ou no passado.

Não bastasse esse ambiente polarizado e fragmentado, que coloca em risco a democracia no planeta, ainda estamos no início das maiores perturbações tecnológicas (uso sem controle da inteligência artificial) e climáticas (eventos climáticos extremos), como nos alerta Thomas Friedman.

Para Friedman, a inteligência artificial vai mudar tudo para todos: o modo como trabalhamos, aprendemos, ensinamos, negociamos, inventamos, colaboramos, lutamos guerras, combatemos crimes, e as mudanças climáticas já estão resultando em aumento de temperaturas e do nível do mar, perda de biodiversidade e impactos negativos na saúde humana, segurança alimentar e recursos hídricos, dentre outras consequências assustadoras.”

A conclusão é que devemos fazer de nossas vidas uma grande escola, na qual cada interação, cada desafio e cada vitória traga ensinamentos únicos. Que aprendamos a distinguir entre os diferentes tipos de pessoas e suas motivações, para nos tornarmos mais sábios e resilientes, assim como também ficarmos atentos para as transformações tecnológicas e climáticas, especialmente quantos aos seus riscos e oportunidades, para que direcionemos nossos esforços em favor de políticas públicas que melhorem a vida no planeta.

Mais do que isso, que nos engajemos na construção de sociedade em que a empatia, a compreensão e o respeito à ciência e aos direitos humanos e ambientais prevaleçam sobre o oportunismo e a ignorância. Em mundo repleto de incertezas, estas são as lições que devem nos guiar para convivência mais harmoniosa e significativa. Viva a tolerância, a resiliência e a ciência!

 

Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista e consultor político, mestrando em Políticas Públicas e Governo pela FGV, diretor de Documentação licenciado do Diap, e Sócio-Diretor das empresas “Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *