Falta emprego para os recém-formados
Gustavo Monteiro
É mestrando no Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho – Cesit/ IE-Unicamp
O alto nível de desemprego dificulta a inserção no mercado de trabalho de quem acaba de se formar, prejudicando carreiras e causando perdas para a economia do país.
Um estudo elaborado pelo Dieese chama a atenção para as dificuldades de inserção enfrentadas por um grupo de pessoas que se encontra em uma fase crucial em sua carreira: os recém-formados no Ensino Superior. Usando dados do IBGE, o estudo mostra que, para essas pessoas, está mais difícil conseguir trabalho e que é ainda mais difícil conseguir trabalhos condizentes com seu nível de qualificação profissional.
Entre 2014 e 2018, caiu a proporção de recém-formados no ensino superior que estavam trabalhando em ocupações típicas, isto é, que exigiam qualificação. Entre os que têm entre 25 e 29 anos essa proporção passou de 51% para 35%. Para os recém-formados entre 30 e 44 anos essa queda foi ainda maior: de 51% para 18%. Além disso, o rendimento dos recém-formados em ocupações qualificadas caiu 20,7%.
O problema é maior entre os recém-formados de lares mais pobres. Em 2018, quase metade (45%) dos formados vindos de domicílios com rendimento per capita de até meio salário mínimo estavam sem nenhum trabalho e apenas 19% deles estavam em ocupações que exigiam qualificação superior. Entre os recém-formados de domicílios com rendimento per capita acima de 2 salários mínimos, essas proporções eram de 21% e 36%, respectivamente.
A falta de perspectivas para os jovens, que enfrentam crescentes dificuldades para se inserir no mercado de trabalho devido à elevada e persistente taxa desemprego, aumenta o risco de que surja no Brasil uma “geração desperdiçada”, composta por jovens cuja entrada no mercado de trabalho é prejudicada porque ocorre justamente no momento de crise. Hoje, os jovens têm maior escolaridade, mas também enfrentam maior dificuldade na hora de iniciar uma carreira em sua área de formação.
A situação é dramática do ponto de vista desses jovens e dos recém-formados em geral, mas ela também significa que parte do gasto público que foi investido para aumentar o acesso dos mais pobres às universidades está sendo desperdiçado, limitando os efeitos dessa política na redução da desigualdade.
Em entrevista à TV Folha, o professor Naércio Menezes resume esta ideia, explicando:
As cotas fizeram com que a representatividade dos alunos negros, pobres, de escola pública aumentasse muito. (…) [Os gastos nessas universidades] dão retorno para a sociedade, porque esses jovens vão triplicar o salário mensal pelo resto da vida. Agora, eles só vão triplicar o salário se eles arranjarem trabalho.
A demora dos recém-formados em encontrar trabalho em sua área de formação significa perda de parte das habilidades por eles adquiridas durante seus anos de estudo. Enquanto isso, o país também perde ao não se beneficiar do aumento de produtividade que uma mão de obra mais qualificada poderia gerar.
Essa destruição de perspectivas e de capacidades da mão de obra no Brasil é resultado direto da persistência de elevadas taxas de desemprego, assunto que deveria ser encarado com máxima preocupação por parte da equipe econômica. Essa pauta, porém, parece prejudicada pela agenda liberal do atual governo. Impulsionada por uma enxurrada diária de notícias, consolidou-se entre a população a narrativa de que o crescimento econômico depende exclusivamente da aprovação das reformas liberalizantes em curso – a ponto de o brasileiro se preocupar menos com o desemprego do que com a inflação, que nos últimos 3 anos se manteve em níveis baixíssimos.
No entanto, ainda que tardio, parece surgir entre os economistas – até mesmo entre os mais liberais – o consenso de que, na atual situação, o gasto público deve ser utilizado para estimular a economia. Eles estão corretos. Não se trata apenas de crescimento do PIB. Conforme o estudo do Dieese indica, são as carreiras e as vidas das pessoas que estão em jogo.