Levantamento revela mundo do trabalho cada vez mais injusto. Remuneração despenca
Um levantamento inédito encomendado pelo “Valor Econômico” traz dados impressionantes sobre o mundo do trabalho. A Consultoria IDados mostra que 10,1 milhões de pessoas (41,7%) se viram como podem e sobrevivem com menos de um salário mínimo, hoje no valor de R$ 998,00 por mês. A situação é pior ainda para outros 15% de trabalhadores (3,6 milhões), que conseguem rendimentos igual ou inferior a R$ 10 reais por dia, ou R$ 300,00 por mês.
“A parcela dos chamados ‘trabalhadores por conta própria, ou empreendedores’, como os neoliberais gostam de chamar esse tipo de atividade, está na linha da pobreza”, alerta o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vagner Freitas, se referindo à renda mínima mensal de R$ 406,00 que o Banco Mundial considera uma pessoa pobre.
Nordeste, Região mais afetada
A situação desses trabalhadores é ainda mais crítica na Região Nordeste, onde quatro milhões de pessoas – dois de cada três – vivem com menos de um salário mínimo. Desse total, 2, 4 milhões trabalham no campo. Outros 1,3 milhão fazem bico em pequenas indústrias de baixa tecnologia, como confecções e fábricas de sapatos. O restante se divide em segmentos do comércio e de serviços, como camelôs, ambulantes, pedreiros e motoristas.
Reforma Trabalhista não diminuiu desemprego
Com cálculos baseados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a consultoria concluiu que a precarização das relações do trabalho, após a Reforma Trabalhista de Michel Temer (MDB-SP), não resolveu o problema do desemprego.
Segundo o IDados, desde o segundo trimestre de 2017, das 3,6 milhões de ocupações geradas, quase metade (1,7 milhão) foi ocupada por pessoas que passaram a exercer um trabalho por conta própria.
“Esses índices são um reflexo da crise econômica e da Reforma Trabalhista”, afirma a professora de economia da Faculdade Latinoamericana de Ciências Sociais (FLACSO), Ana Luiza Matos de Oliveira. Segundo ela, o aumento do emprego sem Carteira assinada, precário, sem acesso a direitos e que deixa os trabalhadores desprotegidos em casos de acidentes, sem Seguridade Social, só aumentou a partir de 2017, ano da Reforma.
“No Governo Temer o crescimento dos trabalhadores sem carteira assinada e por conta própria deu o maior salto, porque, com a crise econômica e o aumento do desemprego, as pessoas começaram a procurar alternativas de trabalho”, afirma a economista.
Para Ana Luiza, o Governo Temer vendeu a Reforma Trabalhista como uma forma de gerar empregos formalizados porque baixou o patamar em termos de direitos.
“O que não era considerado formal, passou a ser normal. E o que se vê hoje, são quatro aplicativos, Uber, Ifood, 99 Táxi e Rappi como os maiores empregadores do País. Juntos trabalham para eles, sem direitos, quatro milhões de pessoas”, conta a economista, que também é doutora em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Pesquisa Econômica da Unicamp (Universidade de Campinas).
Sem esperança de melhora num futuro próximo
De acordo com Ana Luiza, apesar da leve recuperação da atividade econômica no Brasil de 2017 e 2018, ela não se refletiu no mercado de emprego. Mas, pode piorar ainda mais neste segundo semestre.
Com a economia do País patinando, em recessão técnica e com índices negativos de emprego, a perspectiva para um futuro próximo não é nada boa para os trabalhadores – Ana Luiza Matos de Oliveira
Segundo a economista, “os indicadores negativos da indústria e do comércio do País, aliados ao risco de recessão global, com países como Estados Unidos e Alemanha revendo seus índices de crescimento, além da guerra comercial entre China e Estados Unidos, juntos desenham um quadro desanimador para o futuro do emprego e do trabalho. Isto pode trazer sérios problemas ao Brasil”.