Fome é resultado de escolhas políticas
Leonardo Koury Martins é professor, assistente social e militante da Frente Brasil Popular.
As políticas públicas brasileiras de combate à fome durante os governos Lula e Dilma incorporaram duas defesas históricas importantes: a participação política e a intersetorialidade. A primeira pela necessidade de pressão contra a pobreza e a desigualdade, e a segunda por consolidar a luta contra a fome enquanto agenda governamental.
O que a participação política e a intersetorialidade tem em comum? A história do combate a fome passa pelas mobilizações políticas da sociedade pelo acesso à terra e territórios e contra a violência no campo; contra a favelização crescente nos centros urbanos, e, desde a campanha de Betinho, pela luta por erradicação da fome e da miséria. Reforçando esse compromisso dos governos petistas, o lema do governo de Dilma Rousseff que toma posse em janeiro de 2011 passa a ser “Brasil, país rico é país sem pobreza”.
Para efetivar o combate à pobreza e a fome, a intersetorialidade foi fundamental, por permitir que as políticas públicas fossem arquitetadas e sincronizadas na perspectiva de que a fome e a pobreza são resultantes de um país desigual e não poderia pelo governo ser naturalizada. O compromisso de melhorar a vida da população brasileira e garantir direitos básicos, como a alimentação, tornou-se um desafio para todo o governo e não para um setor específico.
Portanto, sem democracia o que será da intersetorialidade? Ou mais, sem democracia a participação popular faz sentido? Seremos ouvidos? É preciso voltar a nossa formação sócio histórica e relembrar que não nos tornamos um povo forte por acaso. Da escravidão aos golpes, passando pelos 20 anos da Ditadura Militar, o povo brasileiro resistiu e resiste todos os dias. A democracia é uma bandeira que interliga os nossos sonhos.
A fome não vem sozinha! Você tem fome e sede de que? A fome no Brasil não vem por ausência de alimentos, nem mesmo pela má administração da economia doméstica. A fome é resultante das decisões políticas. E as ações de governo após o golpe do impeachment em 2016 resultaram em aumento da miséria, do desemprego, da violência contra as mulheres, do genocídio da juventude negra e a morte de indígenas e quilombolas.
A fome é resultante do avanço do capital sobre a vida humana. Um exemplo é a ausência do acesso a água que é cada vez mais preocupante na região metropolitana de Belo Horizonte. A ganância trouxe a morte de centenas de atingidos por barragens e deixou a poluição de duas importantes bacias hidrográficas, um risco para o campo e para a cidade.
É momento de fazer com que a participação política seja uma das mais importantes ações. A democracia é necessária para continuar a história das lutas da classe trabalhadora, que com Lula e Dilma retirou 40 milhões de famílias da pobreza extrema e que tem na sua trajetória aguerrida a ousadia de não deixar de sonhar por um país construído pelas mãos de todas e todos do povo brasileiro.