Priorizar a saúde e o bem-estar agora e quando as escolas reabrirem
O surto da COVID-19 é uma crise de saúde pública sem precedentes, que atinge quase todos os países e comunidades em todo o mundo. Até o momento, há mais de 2,5 milhões de casos confirmados e quase 200 mil mortes relatadas. Os impactos da COVID-19 na saúde são devastadores e, com razão, estão em primeiro lugar em nossas mentes e em toda a mídia, afetando a vida e os meios de subsistência das pessoas em todo o mundo.
Nem todas as consequências da pandemia são tão visíveis. Medidas restritivas de isolamento, o fechamento de escolas e locais de trabalho e a perda de renda para muitas famílias tiveram e continuarão a ter impactos negativos significativos na educação, na saúde e no bem-estar.
Infelizmente, um dos resultados mais palpáveis da COVID-19 é o abismo socioeconômico cada vez maior entre os estudantes, e as crianças mais vulneráveis são as que sofrem os maiores impactos. Mais de 365 milhões de crianças estão deixando de receber alimentação escolar, que as mantém saudáveis e motivadas a aprender.
A falta de acesso às refeições escolares pode aumentar a perda de renda devido à crise e, para atender às suas necessidades, as famílias podem ser pressionadas a recorrer a meios negativos de enfrentamento, como o trabalho infantil ou a redução da quantidade e da qualidade das refeições, em um momento em que é essencial permanecer saudável e manter um sistema imunológico fortalecido.
A aprendizagem em casa, por si só, pode ser uma fonte de estresse para as famílias e os estudantes, pois força todos a assumir novas responsabilidades, às vezes, com tempo ou recursos limitados. Além disso, muitas crianças sofrem de ansiedade e não têm acesso à internet ou a outros meios necessários para se beneficiar do ensino à distância. Algumas crianças mais velhas ficam estressadas pelos meses passados sem aulas, pois precisam cuidar de crianças menores em casa enquanto seus pais ou responsáveis estão trabalhando. Os pais ou responsáveis que não possuem o mesmo nível de escolaridade, que não falam a língua principal do ensino no país, ou ainda que têm filhos com necessidades educacionais especiais, enfrentam desafios ainda mais complexos.
As implicações do surto da COVID-19 na saúde mental são abrangentes. Na Tailândia, uma pesquisa recente com 6.771 estudantes realizada pelas Nações Unidas, juntamente com o Conselho da Infância e Juventude do país, teve a seguinte descoberta: mais de 7 em 10 crianças e jovens disseram que a pandemia está afetando sua saúde mental, de modo a causar estresse, preocupação e ansiedade. Mais da metade dos entrevistados também disseram estar preocupados com estudos e exames, bem como com as perspectivas futuras de educação e emprego, e 7% estavam preocupados com a violência doméstica.
Experiências passadas nos dizem que também existem mais vulnerabilidades e riscos à saúde sexual e reprodutiva quando as escolas são fechadas por mais de algumas semanas, principalmente entre as meninas mais desfavorecidas. Com mais e mais famílias em situação de estresse financeiro e muitas caindo na pobreza, assim como com crianças deixadas sem vigilância, pois os pais precisam sair para trabalhar, aumentam as taxas de casamento precoce e forçado, além de gravidez precoce e não intencional. Também ocorre um aumento de incidentes de atividade sexual não planejada ou forçada entre adolescentes e jovens, apresentando riscos como infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), incluindo o HIV.
À medida que o mundo enfrenta esse desafio sem precedentes, tornou-se mais apreciado do que nunca o papel fundamental que as escolas desempenham no apoio à saúde e ao bem-estar dos estudantes e, de fato, de toda a comunidade escolar, por meio de programas de saúde e bem-estar.
Em todo o mundo, os ministérios da Educação estão inovando para apoiar a saúde e o bem-estar dos estudantes durante o período de fechamento das escolas, reconhecendo que os problemas sociais e de saúde afetam a educação e conectam as famílias às escolas com serviços de apoio necessários, desde recursos de aprendizagem usados na promoção da saúde até o aconselhamento e serviços de saúde sexual e reprodutiva.
No futuro, à medida que as escolas forem gradualmente reabertas, os ministérios da Educação devem considerar como manter padrões adequados de saúde e higiene para impedir a transmissão da COVID-19, com o objetivo de garantir que professores e outros funcionários da escola possam trabalhar com segurança e eficácia. Com as necessidades de saúde variando de maneira significativa nos países e entre eles, esses ministérios agora estão convidados a “conhecer sua epidemia” e identificar os grupos mais vulneráveis, a idade e o gênero dos que sofrem os impactos, além de identificar a natureza desses impactos.
Para enfrentar os desafios, agora os governos também devem procurar maneiras de levar as refeições necessárias às famílias que mais precisam delas, devido à interrupção dos programas regulares de alimentação escolar. Isso garante que os estudantes e suas famílias continuem a ter suas necessidades alimentares e nutricionais atendidas, enquanto recebem apoio para lidar com uma potencial perda de renda durante a crise.
Em vez de refeições, as famílias estão recebendo provisões, ou seja, entrega em domicílio de alimentos, dinheiro ou vouchers.
O próximo passo para essas famílias será a transição de volta para a aprendizagem presencial na escola, à medida que as instituições de ensino reabrem. Quase 1,3 bilhão de estudantes ainda estão sofrendo o impacto do fechamento das escolas em 186 países. Muitos desses estudantes e seus professores já estão enfrentando problemas de saúde física ou mental resultantes do longo período de confinamento e, em alguns casos, perderam familiares durante a pandemia.
Isso não será como sempre foi. Com base nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a UNESCO, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Banco Mundial e o Programa Mundial de Alimentos (WFP) lançaram um Marco de Ação e Recomendações para a Reabertura das Escolas, que dá destaque às medidas de saúde e proteção.
Juntos, nós estamos comprometidos em apoiar os ministérios da Educação e da Saúde em todo o mundo, não apenas para manter a aprendizagem durante a reabertura das escolas, mas para priorizar a importância de sempre da saúde e do bem-estar de nossas comunidades escolares.
Stefania Giannini é diretora-geral adjunta de Educação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.