Racismo | Segurança é vítima de injúria racial em clássico no Mineirão. “Foi triste. Pesado demais”
“Olha sua cor, não põe a mão em mim.” Essa frase transbordada em preconceito, raiva e muita indecência dita por um torcedor atleticano no último domingo, em clássico ocorrido no Mineirão entre Cruzeiro e Atlético-MG. A vítima foi o segurança Fábio Coutinho, de 42 anos, que após o jogo tentava impedir que os torcedores do Atlético fossem ao encontro dos cruzeirenses.
“A nossa intenção era barrar a ida dos atleticanos para uma área restrita, a área da imprensa, mas os atleticanos queriam passar de qualquer jeito”, disse Coutinho. “Foi triste, foi pesado demais. ‘Olha sua cor, não põe a mão em mim’. Então, pela minha cor, eu sou inferior a outro ser humano?”, questionou, emocionado o segurança durante entrevista hoje pela manhã.
AINDA TEVE CUSPIDA NO SEGURANÇA
“Foi a situação mais delicada de minha carreira.” Segundo o segurança, o homem que aparece no vídeo ainda cuspiu nele. Para Fábio Coutinho, situações complicadas fazem parte do cotidiano do trabalho, mas, até hoje, nada havia sido tão grave, a nível do racismo.
Nascido no Rio de Janeiro, o segurança mora em Belo Horizonte há sete anos e adotou o Atlético-MG como time. Ele trabalha como segurança há três anos e presta serviço no Mineirão desde o início deste ano. Atuar em dia de jogo do Galo era uma alegria para ele. Fábio Coutinho relatou que, nesta manhã, ainda assimilava tudo o que aconteceu e, por isso, não tinha procurado a polícia para registrar boletim de ocorrência.
De acordo com a Polícia Civil, o crime de injúria racial depende do registro e da representação da vítima na delegacia para ser investigado. De acordo com o artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal, injúria racial se refere a ofensa à dignidade ou decoro utilizando palavra depreciativa referente a raça e cor com a intenção de ofender a honra da vítima.
O crime de racismo, previsto na Lei n. 7.716/1989, é aplicado quando a ofensa discriminatória é contra um grupo ou coletividade. Por exemplo, impedir que negros tenham acesso a estabelecimento comercial, privado etc.
Torcedores gritando com um segurança parado, que mal respondia. De repente o mais exaltado solta “Olha sua cor”. Não deve ser muito difícil identificar, né? pic.twitter.com/atdPMoos5i
— Marcelo Bechler (@marcelobechler) November 10, 2019